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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Diarreia

DIARRÉIA

SINAIS DE GRAVIDADE E TRATAMENTO

Entenda porque ocorre a diarréia. Saiba como tratá-la e quais os seus sinais de gravidade.




Diarréia é daquelas doenças que todo mundo vai ter pelo menos 1 vez durante a vida. A maioria apresenta pelo menos um episódio por ano. Na verdade, diarréia não é uma doença, e sim, uma manifestação comum de várias doenças diferentes.

Tecnicamente chamamos de diarréia toda vez que evacuamos mais de 200g de fezes por dia. Ninguém precisa pesar as fezes para saber se está com diarréia ou não. Prefiro a definição que diz que diarréia é a evacuação de fezes pastosas ou liquidas efetuada mais de 3 vezes por dia.

Identificar diarréia é muito fácil, mas porque ela ocorre ?

Bom, mais uma vez, para entender uma doença, é necessário entender o funcionamento normal do organismo, neste caso, do sistema digestivo (ou digestório).

Após ingerirmos um alimento qualquer, ele desce pelo esôfago até o estômago. O estômago tem 3 funções básicas: matar germes presentes nos alimentos, através do seu pH baixo (ácido), quebrar moléculas grandes em moléculas pequenas para posterior absorção em outros segmentos do trato digestivo, e armazenar comida, liberando para o duodeno os alimentos processados em velocidade constante.




Ao sair do estômago, o alimento chega ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado. O duodeno recebe as secreções do pâncreas e da vesícula biliar.

O pâncreas libera o suco pancreático, um líquido rico em bicarbonato que ajuda a diminuir a acidez dos alimentos vindo do estômago, e também rico em enzimas que fazem parte do processo de digestão de proteínas, carboidratos e gorduras.

A vesícula biliar produz a bile que é a responsável pela coloração das fezes e pela digestão de gorduras, colesterol e algumas vitaminas (A,D,E e K)

Atenção que digestão é diferente de absorção. Digerir é o processo de quebrar compostos grandes em moléculas pequenas e absorvíveis. Primeiro se digere os alimentos para depois podermos absorvê-los.


Após o duodeno, temos o jujuno e o íleo, respectivamente 2º e 3º partes do intestino delgado. Formam a maior parte do nosso sistema digestivo, podendo chegar a 6 metros de comprimento. Esta é a região onde ocorre a maior parte da absorção dos alimentos digeridos. O intestino delgado é responsável pela absorção de mais ou menos 1 litro de água.




Ao sair do intestino delgado, todo material que não foi digerido e absorvido chega ao cólon(intestino grosso). O cólon tem aproximadamente 1,5 metros e é colonizado por mais de 700 espécies de bactérias, que participam da digestão dos elementos ainda não digeridos, nomeadamente fibras e polissacarídeos (carboidratos com moléculas complexas). Essa digestão realizada pelas bactérias é que causa os gases intestinais. Porém, a função básica do intestino grosso é reabsorver toda a água presente no conteúdo alimentar e nas secreções ao longo do trato digestivo e formar as fezes sólidas ao final deste processo. O cólon reabsorve até 19 litros de água por dia.

Tudo o que não foi digerido ou absorvido ao final do trânsito intestinal, sai nas fezes.





Bom, agora que já sabemos o funcionamento básico dos sistema digestivo, fica mais fácil entender as várias causas de diarréia.

Principais causas de diarréia:

1.) Intoxicação alimentar

Mais de 200 tipos de germes entre vírus, bactérias e parasitas pedem causar quadros de diarréia por intoxicação alimentar. A diarréia pode ser causada pelo próprio germe ou por toxinas produzidas pelo mesmo. Quanto maior a concentração de toxinas ou micróbios, maior é a chance destes vencerem a acidez do estômago e alcançarem os intestinos. Algumas toxinas após sua produção não são destruídas no cozimento, por isso, o armazenamento de alimentos deve ser feito de modo correto antes e depois da preparação.

A intoxicação alimentar se apresenta de 3 maneiras diferentes.

1.1) Vômitos como principal manifestação

O início súbito de náuseas e vômitos, podendo ou não ser acompanhado de diarréia, menos de 12 horas após ingestão de alimentos contaminados (em geral menos de 6 horas), costuma indicar intoxicação por enzimas pré-formadas. Normalmente causado por toxinas das bactérias Staphylococcus aureus e Bacillus cereus.


Outra causa de intoxicação alimentar com vômitos é um vírus chamado Norovírus. Esse vírus pode ser transmitido através de alimentos contaminados ou de pessoa para pessoa através de aerossóis como um resfriado.

As toxinas agem principalmente no estômago, irritando sua mucosa e causando os vômitos.

Nos 3 casos acima a doença é auto-limitada com 3 a 4 dias de duração e não necessita de tratamento específico além da hidratação e sintomáticos.

1.2) Diarréia aquosa como principal manifestação

Normalmente são causados pela lesão da mucosa do intestino delgado pela própria bactéria ou por toxinas produzidas somente após a ingestão do germe. Neste caso os sintomas surgem somente após 24-48h da ingestão do alimento. Vários germes como Cyclospora cayetanensis, Escherichia coli e Clostridium podem ser a causa. Infecções virais também são causas de diarreia aquosa.

Cyclospora cayetanensis


Escherichia coli


Clostridium

Pode haver febre baixa (menor que 38ºC)

Geralmente quando várias pessoas com contato social (trabalho, escola etc...) desenvolvem diarréia mas não apresentam nenhum alimento suspeito em comum, costuma tratar-se de infecções virais, que se transmitem do mesmo modo que os vírus da gripe e do resfriado.

As bactérias e toxinas agem na mucosa do intestino delgado, aumentado suas secreções e acelerando a velocidade com que os alimentos passam. Desta maneira o delgado não consegue digerir e absorver os alimentos que chegam então, em grande quantidade ao cólon. O volume de líquidos e nutrientes que chega ao intestino grosso é muito grande, impedindo sua absorção.

Mais uma vez o quadro costuma ser auto-limitado com duração de 3 a 4 dias. Não é necessário nenhum tipo de tratamento específico.

A cólera é a infecção por uma bactéria chamada Vibrio cholerae que causa uma severa diarréia aquosa. Os pacientes podem ter mais de 20 evacuações por dia e chegam a perder até 1L de água por hora. Nos casos mais graves é necessário internação para hidratação por via venosa.

Vibrio cholerae

1.3) Diarréia sanguinolenta ou com pus e muco

A diarréia que apresenta sangue, pus, muco ou febre alta associada, deve ser avaliada por um médico. Esse quadro é chamado de diarréia inflamatória e pode levar a sepse ou outras complicações graves.

A diarréia inflamatória é causada por bactérias como Salmonella, Shigella, Campylobacter e Escherichia coli entero-hemorrágica e acometem a mucosa do intestino grosso. Pode ser necessário o tratamento com antibióticos, porém, em caso de infecção por Escherichia coli o mesmo pode piorar a diarréia e favorecer o aparecimento de um grave doença chamada de síndrome hemolítica urêmica. Por isso, deve-se sempre realizar cultura das fezes para identificar o agente causador e indicar a necessidade ou não de antibióticos. Nunca se auto medique com antibióticos em caso de diarréias.

Salmonella


Shigella


Campylobacte

O uso mal indicado de antibióticos além de causar complicações, pode perpetuar a diarréia por impedir que a flora bacteriana original do intestino volte a crescer. Sem a flora natural não há digestão de alimentos no cólon e a diarréia não cessa.

Outro perigo dos antibióticos é a infecção pelo Clostridium difficile, uma bactéria que se aproveita da ausência da flora bacteriana normal para causar um diarreia inflamatória grave.

Infecções pelo Campylobacter estão associadas a Síndrome de Guillain-Barré.

Campylobacter

2.) Diarréia crônica

Toda diarréia com mais de 2 semanas de evolução deve levantar suspeitas sobre alguma doença do trato intestinal que não tenha origem em um intoxicação alimentar. Diarréias com mais de 1 mês de evolução são considerada diarréias crônicas e devem sempre ser investigadas.

As principias causas de diarréia crônica são as doenças inflamatórias intestinais como a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, infecção por amebas e outros parasitas, tumores e hipertireoidismo.

Doença de Crohn


retocolite ulcerativa

2.1) Síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável é uma causa comum de diarréia intermitente e dor abdominal. Não existe nenhuma doença orgânica que justifique o quadro. Normalmente se apresenta com diarréia e cólicas associado a períodos de estresse emocional. Alguns doentes alternam diarréia com constipação intestinal. Outros apresentam pequenas quantidade de muco nas fezes (nunca sangue). Excesso de gases intestinais também é frequente.

A síndrome do intestino irritável é uma doença benigna e pode apresentar melhora com algumas mudanças na dieta e no estilo de vida.
síndrome do intestino irritável

2.2) Síndrome de má absorção

Existem algumas doenças dos intestinos que impedem a absorção de determinados nutrientes, levando a diarréia.

Um exemplo comum é a intolerância a lactose (derivados de leite). Ocorre devido a uma deficiência na produção da lactase (enzima que digere a lactose) no intestino delgado.


Outro exemplo é a pancreatite crônica, onde a ausência do suco pancreático impede a digestão de vários nutrientes ingeridos.

A doença celíaca ocorre por incapacidade de absorver glúten, uma proteína presente no trigo e e em vários cereais.

Quando então procurar um médico devido a diarréia ?

Febre alta, normalmente maior que 38,5ºC

Diarréia severa que não melhora após 48-72h

Desidratação

Diarréia com sangue

Diarréia por mais de 2 semanas

Idosos e imunossuprimidos

Se não houver os sinais de gravidade acima, a diarréia deve ser tratada com ingestão generosa de líquidos. Quanto mais intensa for a diarréia, maior deverá ser a reposição de água. Já existem soluções prontas para hidratação à venda nas farmácias. Uma opção é o soro caseiro que pode ser feito a partir de 1 colher de chá de sal e uma colher de sobremesa de açúcar, diluídos em 1 litro de água fervida ou filtrada.

Deve-se evitar a todo custo o uso de medicamentos para interromper a diarréia. Se há uma bactéria ou toxina no trato intestinal, ela deve ser expulsa do corpo. A suspensão da evacuação em doentes infectados pode levar a sepse grave.

Remédios como o famoso Imosec® (Loperamida) só devem ser usados sob prescrição médica.

Deve-se também evitar alimentos gordurosos ou a base de leite, pois durante uma infecção intestinal a mucosa do intestino delgado está muito inflamada e não consegue absorver nutrientes complexos.

Para diminuir a contaminação, deve-se sempre lavar as mãos antes de preparar alimentos ou iniciar refeições.



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