O Tétano é uma doença infecciosa grave que frequentemente pode levar à morte. É causada pela neurotoxina tetanospasmina que é produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium tetani.
HISTÓRIA
A primeira ocorrência registada de tétano é de autoria de Hipócrates, que escreve no século V a.C., dando inúmeras descrições clínicas da doença. Contudo a sua etiologia (causa) foi descoberta somente em 1884, por Carle e Rattone. A primeira imunização passiva contra a doença foi implementada durante a Primeira Guerra Mundial.
Durante muitos anos o antídoto era feito por injecção de toxina em cavalos, e o seu soro rico em anticorpos antitoxina era administrado aos doentes. Contudo este processo gerava reacções imunitárias contra os anticorpos do cavalo, um problema denominado de doença do soro. Por essa razão, cada pessoa só podia receber antídoto uma vez na vida, pois a reacção do seu sistema imunitário contra o anticorpo de cavalo era quase sempre fatal à segunda toma.
CLOSTRIDIUM TETANI
Clostridium tetani com esporos, em baqueta de tambor
Os Clostridium tetani são grandes bacilos Gram-positivos, com cerca de 8 por 3 micrómetros, produtores de esporos e toxinas, relacionados com o género Bacillus, cujo habitat normal é o solo. São móveis, possuindo flagelos. Formam esporos em condições adversas, que se localizam na extremidade do bacilo, dando-lhe um aspecto semelhante a um fósforo ou baqueta de tambor.
A toxina produzida pela bactéria, tetanospasmina, têm duas porções, sendo uma toxina AB. A porção B é especifica para receptor existente nas suas células alvo, provocando endocitose e entrada no citoplasma. A porção A, a toxina propriamente dita, é uma metaloproteinase que destroi as proteínas do sistema de exocitose de neurotransmissor nos neurónios inibitórios dos neurónios motores. A perda dos sinais inibitórios leva à activação extremamente frequente dos neurónios motores, causado espasmos nos músculos por eles controlados. A morte advém da contracção desregulada dos músculos da respiração e consequente asfixia.
Como se adquire?
A bactéria é encontrada nas fezes de animais ou humanos que se depositam na areia ou na terra. A infecção se dá pela entrada das bactérias por qualquer tipo de ferimento na pele contaminado com areia ou terra. Queimaduras e tecidos necrosados também são porta de entrada para a bactéria.
Epidemiologia
Bacilo de Clostridium tetani podem ser encontrados no solo (especialmente aquele utilizado para agricultura), nos intestinos e fezes de cavalos, carneiros, gado, ratos, cachorros, gatos, porquinhos da Índia e galinhas. Os esporos são encontrados também em solos tratados com adubo animal, na superfície da pele e em heroína contaminada.
Hoje em dia, com os programas de vacinação universais, o tétano é raro nos países desenvolvidos. Há contudo 300 mil casos mundiais por ano, com mortalidade de 50%.
Progressão e sintomas
A contaminação de feridas com esporos leva ao desenvolvimento e multiplicação local de bacilos. Eles não são invasivos e não invadem outros orgãos, permanecendo junto à ferida. Aí formam as suas toxinas, que são responsáveis pela doença e por todos os sintomas.
O período de incubação pode variar de 3 a 21 dias (sendo o mais comum 8 dias). Em casos de recém-nascidos, o período de incubação é de 4 a 14 dias, sendo 7 o mais comum. Na maioria dos casos, quanto mais afastada do sistema nervoso estiver a ferida, mais longo é o período de incubação. O período de incubação e a probabilidade de morte são inversamente proporcionais.
O tétano caracteriza-se pelos espasmos musculares e suas complicações. Eles são provocados pelos mais pequenos impulsos, como barulhos e luzes, e continuam durante períodos prolongados. O primeiro sinal de tétano é o trismus, ou seja contração dos músculos mandibulares, não permitindo a abertura da boca. Isto é seguido pela rigidez do pescoço, costas, risus sardonicus (riso causado pelo espasmo dos músculos em volta da boca), dificuldade de deglutição, rigidez muscular do abdômen.
O paciente permanece lúcido e sem febre. A rigidez e espasmos dos músculos estendem-se de cima para baixo no corpo. Sinais típicos de tétano incluem uma elevação da temperatura corporal de entre 2 a 4°C, diaforese (suor excessivo), aumento da tensão arterial, taquicardia (batida rápida do coração). Os espasmos duram de 3 a 4 semanas, e recuperação completa pode levar meses.
Trismus |
Cerca de 30% dos casos são fatais, por asfixia devido a espasmos contínuos do diafragma. A maioria das mortes ocorre com pacientes idosos. Em países em vias de desenvolvimnto este número pode ser até 60%.
Complicações da doença incluem espasmos da laringe (cordas vocais), músculos secundários (aqueles do peito usados para respiração), e diafragma (o músculo primário usado na respiração); fraturas de ossos longos por causa de espasmos violentos; e hiperatividade do sistema nervoso autónomo.
Há três formas clínicas distintas de tétano: local (incomum), cefálico (raro), e generalizado (o mais comum). O tratamento generalizado é aplicado em 80% dos casos.
Diagnóstico
Recolhimento de amostras de líquido da ferida rico em toxina e inoculação em animal de laboratório (rato). Observação de sinais de tétano no animal.
Tratamento
A ferida deve ser limpa. É administrado antídoto, um anticorpo que se liga à toxina e inibe a sua função. São também administrados fármacos relaxantes musculares, como curare. A penicilina e o metronidazol eliminam as bactérias mas não têm efeito no agente tóxico que elas produzem. Os depressores do sistema nervoso central Diazepam e DTP também são dados, reduzindo a ansiedade e resposta espásmica aos estímulos
O tétano pode ser prevenido através de imunização (vacinação). A imunização é realizada com a aplicação de três doses de vacinas iniciais a cada 30 dias e vacina de reforço é recomendada a cada 10 anos.
* 1ª dose –> 1º dia
* 2ª dose –> 30º dia
* 3ª dose –> 60º dia
* 4ª dose –> 10 anos após última dose
* 5ª dose –> 10 anos após última dose
* 6ª dose –> 10 anos após última dose
A ação mais comum em caso de tratamento é dar uma vacina de reforço a todo paciente incerto de quando recebeu a vacina pela última vez. A vacina é constituída por uma molécula semelhante à toxina mas sem ação tóxica. O sistema imunitário produz anticorpos contra a toxina, e células memória que sabem produzir esses anticorpos são geradas.
Caso haja infecção futura a resposta imunitária é rápida, decisiva e eficaz. A vacinação universal e sistemática efectua-se em Portugal, desde 1962 e está contemplada no Plano Nacional de Vacinação.
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